Perturbação do Desenvolvimento Intelectual VS Défice Cognitivo
- Mara Candeias
- 16 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de abr. de 2024
A Perturbação do Desenvolvimento Intelectual (PDI) é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento que, ao longo da história da humanidade, já teve várias terminologias, entre elas: Atraso Mental, Retardo Mental ou Deficiência Mental.
É considerada uma perturbação de difícil diagnóstico, pois quanto mais se sabe, mais complexo se torna o fenómeno devido à heterogeneidade das populações com PDI, tornando-se assim uma perturbação complexa, multidimensional e multideterminada.
De acordo com o DSM V, nos critérios de diagnóstico da PDI encontramos o Critério A, este diz respeito a um défice nas “funções intelectuais que envolvem raciocínio, resolução de problemas, capacidade de planeamento, raciocínio abstrato, juízo, capacidade de aprendizagem pela educação escolar e experiência e compreensão prática. Os componentes críticos incluem compreensão verbal, memória de trabalho, raciocínio perceptivo, raciocínio quantitativo, pensamento abstrato e eficiência cognitiva. O funcionamento intelectual costuma ser mensurado com testes de inteligência administrados individualmente, com validade psicométrica, abrangentes, culturalmente adequados e adequados do ponto de vista psicométrico”.
Estes testes de inteligência calculam o comumente conhecido Quociente de Inteligência (Q.I.), este serve como um modo de situar um resultado individual, obtido num teste de Inteligência, numa distribuição de resultados obtidos numa amostra representativa da população a que o sujeito pertence. Este quociente depende do desempenho do sujeito num determinado teste (conteúdo), do momento determinado da avaliação (fase de desenvolvimento do individuo) e das características da amostra normativa (padrão de comparação). Assim o QI é um conceito descritivo e não explicativo, a inteligência medida é um atributo do comportamento do sujeito, que permite situar os resultados de um individuo num teste determinado, num momento do seu desenvolvimento e em relação a uma determinada população.
Segundo a Associação Americana de Deficiências Intelectuais e de Desenvolvimento, quando o valor do QI é significativamente inferior à média (ou seja, quando se situa dois ou mais desvio padrão abaixo da média do desenvolvimento intelectual para a idade), falamos de Défice Cognitivo, que é, como vimos, o primeiro critério para a formulação do diagnóstico de PDI.
Conquanto, o QI não é uma descrição universal, definitiva e absoluta da inteligência, mas sim uma aproximação do funcionamento conceitual. Nesse sentido, pode ser insuficiente para a avaliação do raciocínio em situações da vida real e do domínio de tarefas práticas, por outras palavras: o Comportamento Adaptativo. O DSM V fornece um exemplo elucidativo, onde “uma pessoa com um valor de QI acima de 70 pode ter problemas de comportamento adaptativo tão graves no juízo social, no entendimento social e em outras áreas da função adaptativa que o seu funcionamento real é comparável ao de pessoas com um valor de QI mais baixo”.
Assim, o julgamento clínico é crucial para a interpretação dos resultados dos testes de QI, pois também pode acontecer uma pessoa ter um QI significativamente inferior à média, mas não serem encontradas alterações significativas no seu comportamento adaptativo, logo o diagnóstico de PDI não deve ser formulado. Nesse sentido, um dos outros critérios que deve ser avaliado é o Critério B, este faz alusão aos “déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social”, por outras palavras, as dificuldades cognitivas mensuradas nos resultados dos testes de QI têm de ter impacto ou reduzir a qualidade da funcionalidade do individuo em vários parâmetros da sua vida (e.g. académico, laboral, social, ocupacional, entre outros).
Por último, a PDI é uma perturbação do neurodesenvolvimento, como tal tem de surgir durante o desenvolvimento do individuo e é nesse ponto que o Critério C se foca, no “início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento”. Esta questão é outro ponto de distinção entre o Défice Cognitivo e a PDI, pois o primeiro pode ser causado por uma série de fatores, como lesões cerebrais, doenças neurodegenerativas, perturbações genéticas, exposição a toxinas ou deficiências nutricionais.
Em suma, é importante uma boa avaliação multidisciplinar, que envolva áreas como Neuropsicologia e Terapia Ocupacional, de forma a serem analisados os parâmetros cognitivos, comportamentais, sociais, emocionais e funcionais do individuo, para realizar um diagnóstico diferencial.
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